Extrait Caio Fernando ABREU

Caio Fernando ABREU
Bien loin de Marienbad
traduit du portugais (Brésil) par Claire Cayron
ISBN 2-903945-81-0
1994
11 €


Il est huit heures du soir ; il n’y a personne à la gare.
Non, ce n’est pas exact. Pour être précis, le TGV arrive ponctuellement à vingt heures et sept minutes - et il n’y a rien de plus ponctuel qu’un TGV peut-être l’omnibus suédois de Kungshambra, il y a si longtemps, est-ce que ça va continuer ainsi ? - , donc il est bien huit heures du soir, un peu plus, mais à peine. S’il importe toute fois de savoir l’heure à laquelle tout cela commence.
Supposons que j’aie trois, au maximum cinq minutes, pour attraper mon fourre-tout, bagage typique et minimal de celui qui se moque d’aller d’un endroit à l’autre sans cesse et sans halte, pour sauter du train et monter les escaliers du quai jusqu’au couloir de sortie, de ce pas hésitant des gens frais débarqués dans un lieu où ils ne sont jamais allés auparavant. Supposons aussi que j’aie regardé alentour, à la recherche de K ou de quelque autre personne complètement inconnue debout dans la gare déserte, tenant un écriteau avec mon nom ; qu’alors je me sois attardé un moment à cette pensée vague que tel est depuis toujours l’un de mes rêves : débarquer dans un egare déserte et inconnue pour rencontrer quelqu’un de pareillement inconnu portant un écriteau avec mon nom brandi bien haut, au-dessus des têtes de ceux qui partent ou arrivent, car telle est la gare que j’imagine, pleine de gens qui montent et descendent les escaliers, chargés de valises, venant de ou allant vers des lieux, d’autres gens ; et au-dessus de leurs têtes anonymes, en transit mon nom serait le seul inscrit en grandes lettres visibles, peut-être rouges, brandies bien haut, les lettres de mon nom.

Traduit du portugais par Claire Cayron

São oito horas da noite, não há ninguém na estação.
Não, não é exato. Para ser preciso, o TGV chega pontualmente as oito horas e sete minutos – enão há nada mais pontual que um TGV, exceto talvez aquele ônibus sueco de Kungshambra, faztanto tempo, continuará assim ? –, portanto não são bem oito horas da noite, mas um poucomais, embora não muito. Se é que importa a hora em que tudo isto começa.
Suponhamos que eu tivesse levado três, no máximo cinco minutos para apanhar a mochila,essa bagagem típica e mínima de quem não se importa de andar de lá para cá o tempo todo semparadeiro, saltar do trem e subir as escadas de plataforma até o corredor de saída, naquelepasso meio desconfiado dos recém-chegados a algum lugar onde nunca estiveram antes.Suponhamos também que tenha olhado em volta, a procura de K ou de qualquer outra pessoainteiramente desconhecida e parada na estação deserta, segurando um cartaz com meu nomeescrito, e talvez então tivesse me detido um momento a pensar vago que sempre foi um dos meus sonhos esse : desembarcar numa estação deserta edesconhecida para encontrar alguém igualmente desconhecido segurando meu nome num cartazerguido bem alto, sobre todas as outras cabeças dos que partem ou’chegam, pois essa é aestação que imagino, cheia de gente que sobe e desce escadas, carregada de malas, vindo ou indopara lugares, para outras gentes, e sobre as suas anônimas cabeças em trânsito meu nomeseria o único escrito em grandes letras visíveis, talvez vermelhas, erguidas bem alto, asletras do meu nome.